segunda-feira, 22 de junho de 2009

Consumo desenfreado


Com o pós-modernismo surge o consumismo desenfreado de uma sociedade. Aliado a isto, a revolução com a criação da televisão e a modernização de outras mídias contribuem para o crescimento do capitalismo. Em entrevista ao blog Pauta Filosófica, a psicóloga Cleide Negri, 45 anos, explica as causas e as conseqüências desse consumo desenfreado, e aponta maneiras de evitar essa característica do mundo pós-moderno.


P. FILOSÓFICA - Algumas datas comemorativas como o Natal e a Páscoa foram distorcidos pelo mundo todo. Atualmente, as pessoas usam destes dias como mais uma forma de consumir. O que provocou isso?

CLEIDE - Acredito que foi o crescimento do capitalismo. Com a revolução industrial, o volume de produção de diversos produtos cresceu muito e com isto foi necessário incentivar o consumo. As rádios já faziam anúncios de publicidade e com a chegada da televisão, imagens aliadas ao som foram chamados irrecusáveis ao consumo. A população foi sendo envolvida cada vez mais pelo mundo "mágico" mostrado nas telas da tv. tudo é motivo para consumo, às datas comemorativas então são filões para o comércio.


P. FILOSÓFICA - Como é possível mudar esta situação do consumismo desenfreado?

CLEIDE - Acho bem difícil, pois as pessoas estão mergulhadas neste mundo de ilusões criado e mantido por uma minoria de espertalhões. Estes que se aproveitam da ingenuidade e frustrações de muitas pessoas. Mas, acredito que também já existem muitas pessoas que estão acordadas para este jogo. E, aos poucos estas pessoas começaram a apontar o que pode estar por trás das "propostas irrecusáveis" as quais somos bombardeados constantemente. Considero alguns meios influentes para combater o consumismo desenfreado:Se partirmos da educação dos jovens e adultos, considero que são importantes:Debates em escolas que chamem os alunos à reflexão sobre o que realmente é importante nas suas vidas, o que é primordial. É necessário que seja mostrado o que o consumismo acarreta às pessoas, a nível psicológico e financeiro. É necessário mostrar que muito lixo se produz com o excesso de consumo, que muita coisa está ficando descartável rapidamente (considerando até os produtos que já saem de fábrica com um prazo de validade muito aquém do que tinham anos atrás) e isto é de interesse do capitalismo - a tecnologia melhora e os produtos ficam cada com suas validades cada vez menores? É necessário mostrar o destino do lixo no nosso país e no mundo.É necessário mostrar como grande parte da população deste planeta tem quase nada para sobreviver enquanto outros desperdiçam, jogam fora. As escolas também podem fazer este trabalho de conscientização com as crianças oferecendo um aprendizado e um planejamento para um futuro. Muito importante também é o papel da mídia. Situação difícil, pois a mídia sobrevive dos anúncios de publicidade. Mas então comecemos pela ética na forma de se fazer o jornalismo. Não se vender aos poderosos que só visam os seus interesses. A mídia tem o dever de transmitir informações verdadeiras à população. Como sugeri os temas dos debates nas escolas, temas assim também devem fazer parte dos noticiários, de programas sérios que mostrem à população o que está acontecendo na sua cidade, no seu país e no mundo. Existem programas de tv e rádio comunitários que são muito bons, mas são poucos e tem dificuldade de se manter, pois quase não tem anunciante. Nem o governo dá muito apoio... Na verdade, para os poderosos é útil que a população fique mergulhada neste mundo de ilusão, que não pense muito. Isto facilita a manipulação, a corrupção e a impunidade. Vencer este jogo de interesses é um trabalho de formiguinha. Mas acredito que a internet começa a despontar como uma grande aliada. Em muitos blogs estes questionamentos estão vindo à tona. Quem sabe temos uma nova geração aí blogando e se conscientizando de tudo isso e consigamos assim virar o jogo. Vou torcer que sim.


P. FILOSÓFICA - Como você indicaria a um paciente, que consome além do limite, a ter um consumo responsável?

CLEIDE - Primeiramente avalia-se o contexto em que o paciente vive. É importante que o indivíduo perceba o que este consumismo está escondendo ou substituindo na sua vida. Procura-se a causa deste consumismo. O que o leva a isto, vaidade? Ansiedade? Tristeza? Alegria / euforia? Identificando a causa do consumismo, o paciente pode enfrentar o problema de forma mais consciente e assim neutralizar o estímulo que o leva ao consumo. No dia a dia, é importante fazê-lo pensar, a cada impulso da compra, se o produto é necessário realmente. Comprar por impulso induz a gastos desnecessários ou mesmo prejuízos. Se a pessoa não consegue controlar o impulso da compra deve tomar medidas mais restritivas no uso de cartões ou outros meios de compras. De qualquer forma, sempre é necessário expor as conseqüências do consumismo exagerado. O indivíduo deve ter a consciência de sua responsabilidade consigo mesmo e com a sociedade.
Diogo Souza

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