
No entanto, a verdadeira originalidade e genuinidade na música já não há mais, assim como em outros campos artísticos, como na literatura ou cinema. Tiremos da discussão os produtos da indústria cultural, que agrupam estrategicamente elementos diversos já experimentados por outros artistas a fim de criar um novo visando o lucro (assemelhando-se mais a uma estratégia de marketing do que um processo criativo propriamente dito). É possível, ainda assim, citar uma série de artistas renomados pelo seu trabalho de composição que simplesmente ligaram A a B, somaram características já existentes a fim de criar uma nova sonoridade. Isso não tira nada do seu mérito. Nem um pouco. Mas antes de citar exemplos, vamos dar nomes aos bois.
Denomina-se pastiche a imitação de uma obra artística, seja ela qual for. Diferente da paródia, que imita com uma finalidade específica, como a sátira ou a crítica, o pastiche é uma imitação neutra, sem finalidade específica. Embora o conceito soe negativo, tal prática é, na realidade, muito mais comum e natural do que parece.
A questão, na verdade, é lógica; o número de combinações e ritmos possíveis de serem inventados é limitado. O que acaba acontecendo é uma mistura de características e elementos, criando novas fórmulas, que, por sua vez, dão origem a novas fórmulas e assim por diante. O rock, por exemplo, é basicamente uma fusão entre blues e o country norte americano. Dentro do rock, há uma infinidade de ramificações, que incorporam novos elementos e modificam a fórmula, como o hard rock, punk rock e etc.
O famoso guitarrista Jimi Hendrix utilizava-se das escalas pentatônicas menores do blues para criar seus solos. O grupo Black Sabbath, por sua vez, cujas músicas deram origem a diversos outros gêneros, incorporava uma sonoridade psicodélica em suas músicas, influenciada pelo próprio Hendrix. É possível citar uma infinidade de grupos que até hoje se utilizam de arranjos bastante semelhantes aos do Sabbath. E assim continua o ciclo.
E à medida que o tempo passa, o pastiche chega a níveis mais claros e intensos. Quando analisamos estilos mais específicos de música, como o hardcore, notamos que estes hoje basicamente revivem o passado. Existem bandas atuais que soam exatamente como as precursoras do gênero há cerca de 30 anos. O que existe aos montes são diferentes fases revivals, que relembram diferentes fases da “era dourada”; no final dos anos 90 houve um boom de bandas youth crew, enquanto na metade dos anos 2000 os grupos influenciados pelo hardcore nova iorquino do final dos anos 80 tiveram maior popularidade.
O que acontece basicamente com o pastiche é um aprisionamento ao passado. É um apego ao que já passou, é uma vontade de que aquilo não fosse passado. É o que na música se chama de influência. E como ninguém cria música do zero, nenhum guitarrista compôs uma grande música durante a sua primeira experiência com a guitarra, nenhum saxofonista compôs seu primeiro solo antes de algum tempo de prática ou sem ao menos ter ouvido música, é óbvio que a influência daqueles que fizeram história antes sempre vai aparecer. O novo hoje é o antigo re-embalado. Quem é capaz de fazer isso com maestria é o original.
Claudio Alves